terça-feira, 20 de março de 2012

Será a depressão um outro nome para as grandes saudades?


Saudades atravessando os poros. É essa a sensação. Transfusão de saudades a todo instante. Saudades no plural, grafadas com letras maiúsculas. De quê? Essa é a pergunta que não quer calar, meus senhores. Minhas saudades são múltiplas. Déjà vus se acotovelam impacientes diante de minha memória. É a saudade daquele dia, daquela viagem, daquele cheiro, daquele momento que parecia já esquecido mas – ô danado! – vai embora não. O meu pensamento emoldura sensações das mais variadas. Assisti ao documentário sobre Arnaldo Baptista. Loki. Louco? Qual é o fio que contorna a minha sanidade? Uma definição não sei de quem lá no documentário: é como se o mundo estivesse te atravessando. É isso o que sinto. Como se as partículas dos fatos cotidianos fossem bem maleáveis e o meu corpo todo furadinho, cheio de poros sequiosos do mundo. Eu não queria sentir tanto. Não. Mas..porra..não é a toa que sou a moça da Análise de Discurso(AD), né? Nunca vou me esquecer de Eni Orlandi lá naquele auditório apertadinho da UESB dizendo pra todo mundo: “...foi então que eu percebi...a AD trabalha com os sentidos...”. Risos. É isso. Trabalhar com os sentidos significa estar exposta a eles. Sentir os sentidos. Redundância, o caralho. As pessoas de câncer sentem demais? Alguns indivíduos nascem com tendência à melancolia/introspecção? Essas coisas advêm da genética? Esse é um comportamento típico de um tipo 4 no Eneagrama? Qual justificativa escolher para explicar essa eterna sensação de ausência que me totaliza? É uma fragmentação absurda sabe? Só a título de informação...acho que o tal do sujeito descentrado, existe mesmo, viu Pêcheux? Você está me ouvindo? Ironia das grandes, né? Mas a depressão não veio junto com a dita pós-modernidade. Eu sei disso. Não veio. E a minha depressão? Eu não sei qual a carta que a responde, qual dispositivo secretíssimo foi acionado para que ela fosse senhora da minha vida como está sendo agora. Eu não sei muitas coisas do mundo. Mas, se o conhecer sempre foi algo que me seduziu, o desafio em conhecer, nem se fala. É por isso que eu estou te avisando, Dona Depressão – eu não sei como você se entranhou em mim, mas, de uma coisa você pode ter certeza: pra brigar contigo, eu faço coro a Lirinha, recitando Ororubá: “Árvore dos Encantados, tenho medo, mas estou aqui. Aqui, mãe. Aqui, meu pai. Em cima do medo, coragem”.

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