domingo, 15 de abril de 2012

Da boca, da carne, da vida e do medo de viver.



Sabe aquelas lavagens que preparam a casa para uma grande festa? Quem morou no interior e tem mãe exigente, sabe bem o que é isso. Véspera de Natal, São João ou mesmo o temido "Final de semana daquela grande faxina!". Enfim. Eu sei o que é isso. Lavar tudo. Da garagem ao quintal. Vassoura. Sabão. E água. Principalmente água. Água revestindo tudo. Passando de um cômodo para o outro("Corre, coloca o pano, par anão entrar no quarto que já está limpo!"). Eu gostava dessas grandes faxinas porque elas me permitiam deslizar na água. Brincar de super-heróina ou de grande navegadora ou, ainda, de pessoa muito limpa.
Na minha casa sempre tivemos muuuita coisa com limpeza.Havia sempre uma preocupação para não haver teias de aranha ou resquícios de confusão. Risos. Platônica. Minha formação foi toda maniqueísta. Havia o bem e havia o mal. Havia o alma e o corpo. Havia a ordem e a desordem. Havia o certo e o errado. Esse negócio de holismo, eu só vim saber dele quando adolescente. Ouvia Raul e dizia: peraí, então..as coisas não são assim..tão bonitinhas, perfeitinhas, dividinhas?? Eu estudei em colégio de freiras mas posso pecar? Loucura isso.Risos.Vejo que não estou sozinha nessa de me perceber falha e...de não sofrer com isso.
Eu relutei muito em escrever este texto, ele está engasgado em minha garganta e em meus neurônios há muito tempo, que nem sei datar. A catarse de hoje refere-se aos tabus nossos de cada dia. Não pretendo fazer análises de cunho psicológico e/ou sociológico (Afastai-me destes tortuosos caminhos São Freud e São Marx!), pretendo apenas exorcizar um pouco inquietações bem antigas.
Buceta. Pica. Cu./ Estelionato.Extorsão.Tráfico de influências./ Máfia dos atletas. Juiz comprado. Cartolas./ Ressureição da carne. Remissão dos pecados. Vida eterna./ Não, a ideia não é reinventar o "Circuito Fechado" de Ricardo Ramos. Tampouco explorar o meu lado dadaísta. "Sexo, futebol, política e religião não se discutem",quantas vezes você já ouviu essa cantiga de ninar? Eu, pra variar, tenho um objeção. Aliás, várias. No meu corpo pulsam objeções. Tudo se discute. Às vezes não tanto como deveria. Ou não da maneira que deveria ser discutido. Mas tudo se discute.
E...se a liberdade me faz companhia...eu quero falar sobre o suicídio. É tabu, né? Aquela coisa interditada, que todo mundo sabe que existe na sociedade mas que, quando acon tece, baixa o tom de voz para falar, numa mistura de respeito e medo. Seríamos mais felizes se não existessem tabus? Seríamos melhores se os desejos não fossem interditados? Acho que não sei, não quero saber e quase tenho raiva de quem sabe. O que eu sei é que eu sempre quis morrer. Sempre desejei, imaginei, calculei, retratei em minha mente a minha morte. Isso é coisa de adolescente, né? Você, leitor amigo, pode se rebelar e até concluir: então a depressão é sinônimo de retorno à adolescência? Olha, eu tô ciente. Machado de Assis não vem puxar o meu pé se o parafraseio. Cada um pensa por si e todo mundo copia todo mundo. Minha adolescência permanece, parece. Sabe aquel poema de Martha Medeiros:

Sou uma mulher madura
Que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura
Que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança
Sou uma criança que atura

Então.Sou assim. Alma de criança, talvez, né Camilinha? Alma de gente que não entende sempre as coisas, ou melhor, que não aceita sempre as coisas como elas são e que, quer, sempre, perguntar. Por quê? Por que benvindo e não bem-vindo? Por que saudade em vez de partillha? Por que máscaras sociais em vez de verdade? Por que desigualdade social e não o reino de Deus na Terra? Por que vestibular em vez de aprendizagem? Por que, caralho, Rede Globo em vez de TV Cultura? Enfim. Perguntas. Por que querer morrer em vez de querer viver?
Eu não sei. Ainda bem que não estou diante de nenhum banca de concurso, hein? Risos. Eu não sei a resposta. Só sei que sempre não quis viver. Sempre achei que Deus poderia, a qualquer momento, trocar a minha vida pela de um doente terminal. Dar o meu sopro par aquem deseje viver. Estranho. Difícil assumir isso. Sempre desejei viver intensamente. Corrigindo: sempre vivi intensamente. Meu sorriso é o maior. mInhas horas demoram a passar. Minha vida tem mil trilhas sonoras e em todas eu me entorpeço e peço a Deus desculpa, mas ... eu quero é sentir a fragância do exagero. Da dor e do amor. Com isso não quero me postular poeta, Cazuza. Apenas quero dizer da emergência do sentir. Entranhas remexidas. Que cor tem a vida? Mesmo se for cinza, tonalidades incendiárias tocam minhas coxas, defloram meu cérebro e a(s)cendem todas as minhas pupilas.
Ok. Então...a contradição, né? Como querer morrer se gosta tanto da vida? Lidar com o corpo é complicado. Eu demorei para descobrir a imbricação entre corpo e alma. Eu achava que alma ia pro céu e corpo apodrecia e...por isso...não precisava cuidar do corpo. Tá. Parece a maior besteira ou coisa mais óbvia do mundo, mas...eu não sabia!! Eu não sabia dessa necessidade de exercitar o corpo, de ver o corpo, de tocar o corpo. E não estou falando de masturbação ou de se olhar no espelho. Eu estou falando é de valorizar o corpo, sabe? Eu continuo nesse caminho. Considerando todas as dimensões: religiosa, espiritulaista, hedonista, socialista...todo mundo prega a valorização disso aqui.Traduzindo: o respeito a isso aqui que se chama..corpo. Simples assim. Risos.
Eu ainda continuo pensando em suicídio às vezes. Faca. Envenamento. Queda. Tiro. Eu só não penso em água, sabe? Eu não quero me afogar não. Não quero ter a impressão de posso querer respirar e de que não vou conseguir. Eu não vou me suicidar. Porque minha mãe sofreria; porque minha vida é dádiva divina; porque ainda há muito o que se fazer, ouvir, pensar e..principalmente... porque estar com depressão não é o fim do mundo. Depressão não é o fim da vida. Porque eu sou gente, sabe? Gente que falha e acerta horrores. Gente que tem milhões de medos e incertezas. E gente que tem vontades. Gente que respira e anseia por existência smúltiplas e felizes pra mim e pra todo mundo. Pra quem gosto e pra quem não gosto. Pra quem gosta e pra quem não gosta de mim.
É isso. Que venham as enxurradas. Eu gosto da água e estou pronta para me sentir nem suja, nem limpa, apenas viva. É. É isso. Um feliz domingo ensolarado pra tod@s.

P.S.: Essa ilusta de Laerte aí em cima..olha..acho q eu virava crossdresser se el@ quisesse casar comigo... risos.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Qual o meu tamanho, Fernando Pessoa?




Chego eu na farmácia pra comprar meu lindo prozac mensal. O moço, tooodo solícito, traz as caixas e diz: "-A sra. está com ansiedade, é?". Eu, toda, verdadeira e paciente, balanço os olhos, encaro-o na barriga e digo,com o ar mais ameaçador q posso:" -Dentre outras coisas, dentre outras coisas...". Ele, não satisfeito, replica: "-Temos isso aqui também, ó!É ótimo, para stress, depressão, ansiedade, cólica, dificuldade de concentração..." Eu, atônita, o vejo erguer em minha direção uma caixa de vitaminas com nome estrambólico em inglês. Olho-a sem muito prazer e percebo que existe tb uma versão masculina (numseiquelá man) da panaceia q me é descaradamente oferecida. Enquanto engulo a minha vontade de perguntar se ele é louco, por me querer vender algo assim, na maior caradepau, digo, por fim:" -Ok, tá." Ele, por incrível que pareça, não desiste e logo acentua os poderes milagrosos da tal vitamina: "-É muito boa!! Sai muito, viu?". É obvio q fiquei uns segundos meio q estarrecida, meio q indignada, meio q cansada diante daquele entusiasmo todo. Me senti em meio a um comercial das Facas Ginsu :"Não, não desligue a TV!! Na compra dessas maravilhosas facas, você ainda levará, totalmente de graça, este maravilhoso...", etc e tal. E assim é a vida. Saio da farmácia pensando se eu tenho cara de louca. Ou de ingênua. Ou de nada. Cara de paisagem. Será que aquele atendente me tratou como a Indústria Farmacêutica me trata? Com cara de paisagem, que nada faz, diz ou pensa?
Logo comecei a pensar tb no meu corpo, em como eu o trato e em como a sociedade ("em q estou inserida!!" chavão básico das redações de vestibular!risos)o trata. Afinal, pra que servem cabeça, tronco e membros? Aliás, "servem"? De quantas interdições eu já me libertei? Com quantas rasuras me contruí? "No princípio era o Verbo.E o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) E o verbo se fez carne e habitou entre nós". (Jo 1, 1-3;14).São com esses verbos, adjetivos, pronomes, numerais, interjeições e todas as outras classes "gramaticais" que traço a minha corporeidade e defino a minha existência nesse mundão grande de meu deus. Ponto. É isso mesmo? Deus presente em mim? É disso que quero falar? Da gratidão em não me reconhecer como uma máquina que atende a todos os comandos, sejam eles imbecis ou enfadonhos ou inúteis? É.É disso.Cê tá ouvindo, seu atendente da farmácia; dona televisão; seu sistema educacional alienante; sua quadrilha de politiqueiros indignos e mais uma porrada de gente que insite em querer tratar o meu corpo como receptáculo de boas intenções, daquelas que o inferno está cheio? Risos. O texto está tomando um tom bem religioso, bem revoltado e bem adolescente. Risos. Sou católica.Tenho inquietações milhões. E..por mais q eu sofra com essa verdade, qdo lidamos com paixões, somos sempre adolescentes(minha amiga Raquel, psicóloga "das boa e percurada" é sábia!!!. Nesse caso, minha paixão do dia é o meu corpo. Fibras e células e(x)tendidas. Qual o meu tamanho, Fernando Pessoa? Xô te dizer: no varal coloquei os meus sonhos, mas num pense vc que eles ficarão lá, largadinhos, não!! Eu quero ter /ser um corpo sadio (mens sana in corpore sano!) e cônscio de todas as divindades que nele habitam. E, principalmente, quero que os meus sonhos não esbarrem em um balcão de farmácia. Quero os meus sonhos no meu corpo e que ele...ah..que ele, Chico Buarque de Holanda, seja testemunha do bem que sonhar me faz. A propósito, feliz dia do beijo pra todo mundo!!


P.S.:Lá no início,Dahmer, o cartunista mais lindo do Brasil. Logo acima,minha fantasia de Eva (e não Betty Boop!!!) nas ruas do lindo Carnaval de Olinda.