terça-feira, 3 de julho de 2012

Os doidos não usam cuecas (eu vi).

(TomZé reúne os meus fragmentos de gente criança e de gente grande) Existe algo assim no teatro, né? "Eles não usam black-tie". Será Gianfrancesco Guarnieri? Nelson Rodrigus? Ou Glauber Rocha, gritando comigo para que eu grite com o mundo? Estou serena hoje. Nada de gritos. "Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?". Não, não estou embarcando nessa de me sentir mal por ser hipócrita. Para viver é preciso. Eu realmente preciso passar pela rua e ignorar aquele homem dormindo ao lado do Banco do Brasil. Eu não posso me chocar porque é meio-dia e ele dorme. Eu não tenho nenhuma responsabilidade se ele está embriagado ou cheirado. Eu não tenho nada a ver com aquele homem a não ser a minha condição feminina. Me Jane, you Tarzan. Ele é um homem e sua masculinidade me afeta porque eu vejo o pênis dele. Quantas vezes eu já vi homens vagando pelas ruas? Os loucos (risos). Os que não estão na nossa sintonia. Os que não penteiam os cabelos, não tomam banho, não pensam na roupa especial daquele primeiro encontro e...principalmente...os que exibem, displicentemente, sua genitália. Ele estava deitado, dormindo, com o zíper aberto e...sem cueca. Achei isso brutal. Porque nós não somos livres. Ninguém venha me alegar democracia e demais princípios liberais que eu não tenho mais paciência para esse lero. Nós temos algusn lampejos de liberdade. Até aí, ok. Mas, mostrar o pênis e a vagina? Isso não. É tabu dos brabo, mas aquele homem (louco?) contrariava este tabu. Nós, homens e mulheres do século XXI, temos uma relação engraçada com a nudez. No carnaval e na praia pode. Na hora de fazer ousadia,deve. Mas...na rua...do nada...se for mulher, é puta; se for homem, é tarado. Essa é uma lógica que classifica o diferente como o bárbaro, não é? Temos medo da invasão do que nos é estranho? Estranho? Billie Jean? Ah fia, conta outra! A nudez (castigada, pra variar!!!) não nos é estranha. No máximo externa, porém nem nisso eu acredito. Minhas convicções estão enraizadas mesmo é nas coisas de toque, calor, carinho, aconchego, cheiro no pescoço. Coisas de corpo. Mas eu deveria ter prestado mais atenção às aulas de Biologia. Raramente consigo entender como pode ser orgânico este estranhamento que sinto de maneira tão nítida, esta tristeza doída que me faz parecer o pequeno príncipe sozinho no deserto. Leio e releio os tratados sobre serotonina, dopamina. Quero saber quais são as coisas que fazem bem. Alimentos que devo ingerir para os tais dos neurotransmissores funcionarem e eu não sentir essa vontade absurda de abandonar o meu sorriso. Eu sou nova ainda. Acabo de fazer 32 anos e da obrigatoriedade de ser feliz... eu tenho medo. Tem gente que tem medo de morrer. Eu tenho medo de ficar viva. Faço um esforço enorme para ignorar a nudez do louco e a minha nudez. A nudez de princípios e a nudez de valores. Poderia ter nascido em outra época? Um canto onde as pessoas se frustrassem menos? Não sei. Sei que não estou sozinha nessa seara de achar uma contradição a nudez do "louco" chocar e a da mulher-fruta vender revista. Mas, mesmo assim, é doloroso ter uma consciência absoluta da perenidade e, ainda assim, ter um ar blasé. Um texto triste e desnorteado, este. Gil fez 70 anos. Me oriento é pela vontade grande de amar. Tá, tudo bem que as estrelas ajudam, mas o meu eixo está sempre pendendo para o desequilíbrio do amor. A merda é que é um amor coletivo. Risos. A merda é que não adianta o prozac, nem os quadrinhos, nem o banho de mar, nem a torta de chocolate. As baixarias cotidianas tem trazido névoas pros meus olhos. Essa coisa de epitáfio. O meu, não tenho dúvidas, é o de ter morrido de amor. Eu pulo ao som de bichos escrotos, mas na hora do “vamovê”, minha dor é piegas. Eu, que tenho a alcunha de doida, a diferente que não quer tchu nem tcha...mesmo sabendo que não estou sozinha...não sei lidar com isso. Este é um texto triste, desnorteado e um pedidor de ajuda. Marromeno como o Marcelo, Marmelo, Martelo. É isso. Não sei mais ser a gente grande que sabe ignorar o homem nu ao lado do banco do Brasil. É isso.

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